segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Fotografia



O ponto de vista do fotógrafo demonstra um lado mais inclinado para o espiritual e o místico. Tornam visíveis as sensações que passam as imagens, tendo assim a fotografia como uma ilustração de sentimentos que demonstram as figuras mais simples, as mais bizarras, as mais miúdas que, normalmente, passam despercebidas. O fotógrafo sente mais do que vê. Sobre o detalhe do malfeito, no imperfeito uma singela perfeição sentimental, pois lá ele encontra a beleza do feio e suaviza a do muito belo. Temos também a fotografia como uma máquina do tempo, não fotografando figuras e sim momentos, causando-nos a lembrar de tudo que passamos, todos que perdemos e que amamos, e até que erramos mas que nada foi em vão. Ela serve como forma de protesto! A fotografia, com a habilidade de realçar o despercebido, demonstra-nos a burrice escandalosa dos muito influenciados, do maltrato e do exagero. Como propaganda, a fotografia ilude e engana quase personificada com sua fama de conto de fadas, de fazer nascer poesia das mais imundas realidades. Porém é sempre agradável ter algo que retrata tudo aquilo que não temos tempo de ver, pois enquanto a vida corre, nesta arte quase viva, o tempo para. Resume-se a um momento, a uma idéia, talvez até desonesta, que no final das contas nos agrada.

sábado, 23 de outubro de 2010

To be



É tão agradável ter a tranqüilidade de não ficarmos eternamente sobre controle do que fazemos o que dizemos o que sentimos... Simplesmente assim, deixando as distrações nos carregarem para onde talvez nem deveríamos ir. Com a conseqüência ingênua de nem lembrarmos como chegamos lá. No entanto, agradecidos pelo bom e o ruim que a vida nos entregou no caminho. Dentre tudo, as pessoas que conhecemos, mas que foram embora. Os sorrisos que causamos, os choros, o que duvidamos de nós mesmos, e nos enganamos. Tudo que nos fez descobrir o que é sentir e amar e brincar e prezar e aprender que de muito mais temos para aprender, e que nunca saberemos de tudo. Que não podemos nos descrever hoje para ninguém, porque amanhã teremos mudado de idéia. Ou descrever o que achamos que somos, e nos transformar naquilo. Acabando por perceber que no final das contar somos tudo que fomos e que ainda vamos ser, e que isso, nunca vamos conseguir descrever. Basta sorrir, basta viver.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Alegria




É engraçado quando lemos qualquer coisa no momento certíssimo para esse texto descrever-nos e tudo que estamos sentindo.
A poesia que lê os leitores.
Clarice tende a fazer isso...

"Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar." --Clarice Lispector

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Reality



De tanto querer o lado fácil
Deus me deu o mais difícil
De ser a vilã da história
A mais desentendida das vilãs
A vilã que mata com amor
Sem saber que está matando
E depois sofre com a morte
E ainda briga com o autor.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A curiosidade matou o gato.



Não estou estressada, nem confusa.
Estou conformada com as conseqüências dos meus atos.
E é isso que me dói.
Porque às vezes detesto essa minha coragem
De fazer tudo que não deveria ser feito
Por plena curiosidade.
Sim, aquela mesma curiosidade
Que matou o gato
E todos seus amiguinhos.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Daddy



Daddy, daddy
Sei que como um louco
Já perdeu um pouco
Da tua maneira

Mas daddy, daddy
Não deixe outro louco
Tirar tua loucura
Totalmente inteira.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O lado bom do burro



Agradecemos aos nossos pais
Por nossas burrices
Pois graças a tais momentos
Conseguimos ser felizes.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Adeus



Adeus Brasília e sua natureza concreta
Adeus amigos, passados e presentes
Adeus sanidade Postiça!
Vou viajar pra dentro de mim
E quem sabe nunca mais voltar
E talvez nunca mais os verem
Ao menos que queiram enlouquecer comigo.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Homenagem



Sim, ela é a única que me escuta até quando não falo nada.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

É simples



- Você gosta de brigadeiro?
- Não
- Mas como não?! Impossível alguém não gostar de algo tão feito de leite moça e nescau, que todo mundo gosta! Não pode ser que alguém não goste de doce... E só alguém que não gosta de qualquer tipo de doce não gostaria de brigadeiro! Impossível, não consigo entender! Porque não gosta de brigadeiro?!
- Não sei, simplesmente não gosto. o.o'

Porque os mais simples conseguem ser os mais difíceis de entender.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Paz?



As vezes me olho no espelho,
observo meus olhos
Meu sorriso disfarçado
Minha expressão gelada
(De paz?)
Mergulho em mim mesma
Vejo minha alma
E como tudo é tão certo
As pessoas, coisas, vidas
Simples, sossegadas
(Em paz?)
Acho que entendi porque minha mãe
Está sempre em tanta paz
E também porque Jesus
Não veio por isso.
Por aquela paz que te faz completamente
Desapegada de tudo, de todos.
Aquela paz quase repugnante, torpe
Mas de certa maneira, Viciante.

sábado, 3 de julho de 2010

Mamãe



Ela não chora, mas faz biquinho.
Ela não pede, mas quer carinho.
Ela percebe quando estou
Bem demais pra ser verdade.
Ela só quer que eu sempre seja eu
E que eu fique a vontade
E que eu ame de verdade.
Ela é a mãe e eu sou a filha da mãe
Muito orgulhosa pra perceber
Que ela só quer o meu bem.

domingo, 20 de junho de 2010

Malditos gnomos.




Você precisa muito de algo, com urgência, e sabe exatamente onde deixou, mas, quando vai procurar, magicamente, não está ali. Você desconfia, mas, por instinto, dá uma olhada nas prateleiras do quarto, no armário e logo está em pânico, vasculhando toda a casa. Você procura no banheiro, no telhado, no vaso de flores, no berço da sua irmãzinha, no estômago da sua irmãzinha. Você volta pro lugar onde, meu Deus, você tem certeza! Você se lembra nitidamente que guardou ali! Você chora. Você desiste. Você xinga seus parentes. São mesmo uns intrometidos, sempre mexem nas suas coisas. Você jura mudar de casa o mais rápido possível e vai dormir.
Duas semanas depois você encontra o troço exatamente onde você tinha deixado! Bem ali, enorme, brilhando! E bem quando você não precisa mais dele :D MALDITOS GNOMOS!

sábado, 19 de junho de 2010

Mágico...




"Todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser
Todo verbo é livre para ser direto ou indireto
Nenhum predicado será prejudicado
Nem tampouco a frase, nem a crase
Nem a vírgula e ponto final
Afinal, a má gramática da vida
Nos põe entre pausas
Entre vírgulas
E estar entre vírgulas
Pode ser aposto
E eu aposto o oposto
Que vou cativar a todos
Sendo apenas um sujeito simples
Um sujeito e sua oração
Sua pressa e sua prece
Que enxerguemos o fato
De termos acessórios para a nossa oração
Adjuntos ou separados
Nominais ou não
Façamos parte do contexto
Sejamos todas as capas de edição especial
Mas, porém, contudo, todavia
Entretanto, todavia, however
Sejamos também a contracapa
Porque ser a capa e ser contracapa
É a beleza da contradição
É negar a si mesmo
E negar-se a si mesmo
É muitas vezes encontrar-se com Deus
Com o teu Deus
Sem horas e Sem dores
Que nesse momento em que cada um se encontra agora
Um possa se encontrar ao outro
E o outro no um
Até por que
Tem horas que a gente se pergunta...
Porque é que não se junta tudo numa coisa só?"

-- Fernando Anitelli

terça-feira, 15 de junho de 2010

Das Utopias.



Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las.
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!

-- Mário Quintana.

sábado, 12 de junho de 2010

A melhor definição.




Justiça:

Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu


"Cigarro" por Zeca Baleiro.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O mistério das cousas


Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

Há Metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber o que não sabem?
"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo" ...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas,
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De que, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.