sábado, 23 de outubro de 2010

To be



É tão agradável ter a tranqüilidade de não ficarmos eternamente sobre controle do que fazemos o que dizemos o que sentimos... Simplesmente assim, deixando as distrações nos carregarem para onde talvez nem deveríamos ir. Com a conseqüência ingênua de nem lembrarmos como chegamos lá. No entanto, agradecidos pelo bom e o ruim que a vida nos entregou no caminho. Dentre tudo, as pessoas que conhecemos, mas que foram embora. Os sorrisos que causamos, os choros, o que duvidamos de nós mesmos, e nos enganamos. Tudo que nos fez descobrir o que é sentir e amar e brincar e prezar e aprender que de muito mais temos para aprender, e que nunca saberemos de tudo. Que não podemos nos descrever hoje para ninguém, porque amanhã teremos mudado de idéia. Ou descrever o que achamos que somos, e nos transformar naquilo. Acabando por perceber que no final das contar somos tudo que fomos e que ainda vamos ser, e que isso, nunca vamos conseguir descrever. Basta sorrir, basta viver.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Alegria




É engraçado quando lemos qualquer coisa no momento certíssimo para esse texto descrever-nos e tudo que estamos sentindo.
A poesia que lê os leitores.
Clarice tende a fazer isso...

"Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar." --Clarice Lispector